quarta-feira, 22 de junho de 2011

Por que Deus é um ser escondido?

Como a vida seria diferente se Deus fosse uma divindade "a ser tocada com as mãos". Seria a evidência. Não precisaríamos de provas sobre a Sua existência. Neste sonho bastaria fazer-lhe um pedido para sermos atendidos mais do que de repente. Temos um inimigo? O Poderoso logo o afastaria. Temos dívidas? O socorro mágico aconteceria antes do pôr-do-sol. Somos acometidos por uma doença? Feito o pedido de cura, num piscar de olhos o mal estaria superado.

Mas Deus é um Ser que confia na inteligência humana. O homem pode chegar a Deus a duras penas, às apalpadelas. "Como cegos vamos tateando como quem não enxerga" (Is 59, 10). Isso nos dá ocasião para expressarmos fé, que é um ato meritório, por depender de nossa livre vontade. O delírio fantasioso, acima descrito, seria um puro “encantamento”. Seríamos obrigados a crer. Assim como a Providência dispôs, baseamo-nos numa intuição muito forte de que este Ser Poderoso tem que existir, e Lhe devemos profundo respeito. E com amor nos consideramos profundamente ligados a Ele.

Quem é que nunca chega a Deus? Os que não são capazes de dobrar os joelhos, vale dizer, quem é um soberbo de coração. Também não alcançam essa fé salvadora, os perversos que praticam o mal. “Os pecadores não ficarão de pé na assembléia dos justos” (Sl 1, 5). Também os devassos, os que vivem atolados nos prazeres sexuais desenfreados, não chegarão lá. “Felizes os puros de coração porque verão a Deus” (Mt 5, 8). O mesmo se diga sobre aqueles que se apegam por demais aos bens materiais. “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16, 13).

Além do mais, um grande auxílio para o encontro, na fé, com o Deus verdadeiro, é a inteligência. Podemos em toda a parte ver os “rastros” do Eterno, mesmo sem jamais vê-Lo neste mundo. Isso aconteceu com o coordenador do projeto Genoma Humano. O cientista Francis Collins entrou ateu no projeto e saiu como um homem de fé convicta. No entanto, eu quero lhe dar, amigo leitor, a chave que abre os caminhos mais misteriosos da existência humana. É o melhor modo de se aproximar do Ser amoroso por excelência. É se encontrar com Cristo. Este nós O vimos e tocamos com as mãos. Ele é o revelador do rosto do Pai, porque Ele relata o que viu.

sábado, 18 de junho de 2011

Tão pequena e Doutora


Na Proclamação de nossa Pequena Teresa como Doutora da Igreja, o Santo Padre João Paulo II, na Carta Apostólica Divini Amoris Scientia nos mostra como foi rápido o reconhecimento, por parte da Igreja, da santidade de Santa Teresinha e como sua espiritualidade se espalhou por todos os cristãos. Abaixo temos um pequeno trecho desta Carta. É graças à pequenez que S. Teresinha conseguiu fazer obras tão grandiosas aos olhos de Deus mas que, para nós, são as menores e mais simples coisas que podemos fazer no nosso dia a dia. Este amor ao cotidiano que nos faz alcançar forças para suportar este breve momento que passamos exilados, tendo em vista unicamente a nossa Pátria Eterna.
"Rápido, universal e constante foi o acolhimento do exemplo da sua vida e da sua doutrina evangélica no nosso século. Quase à imitação da sua precoce maturação espiritual, a sua santidade foi reconhecida pela Igreja no espaço de poucos anos. Com efeito, a 10 de Junho de 1914 Pio X assinava o decreto de introdução da causa de beatificação; a 14 de Agosto de 1921 Bento XV declarava a heroicidade das virtudes da Serva de Deus, pronunciando nessa ocasião um discurso sobre a via da infância espiritual; e Pio XI proclamava-a Beata a 29 de Abril de 1923. Pouco mais tarde, no dia 17 de Maio de 1925, o mesmo Papa diante de uma imensa multidão, canonizava-a na Basílica de São Pedro, pondo em evidência o esplendor das suas virtudes, assim como a originalidade da sua doutrina; e dois anos depois, a 14 de Dezembro de 1927, acolhendo o pedido de muitos Bispos missionários, proclamava-a, juntamente com São Francisco Xavier, Padroeira das missões.
A partir desses reconhecimentos, a irradiação espiritual de Teresa do Menino Jesus cresceu na Igreja e dilatou-se no mundo inteiro. Muitos institutos de vida consagrada e movimentos eclesiais, especialmente nas jovens Igrejas, escolheram-na como padroeira e mestra, inspirando-se na sua doutrina espiritual. A sua mensagem, muitas vezes sintetizada na chamada «pequena via», que não é senão a via evangélica da santidade para todos, foi objecto de estudo por parte de teólogos e cultores da espiritualidade.
Foram erguidos e dedicados ao Senhor, sob o patrocínio da Santa de Lisieux, catedrais, basílicas, santuários e igrejas em todo o orbe. O seu culto é celebrado pela Igreja Católica nos diversos ritos do Oriente e do Ocidente. Muitos fiéis puderam experimentar a força da sua intercessão. Muitos, chamados ao ministério sacerdotal ou à vida consagrada, especialmente nas missões e no claustro, atribuem a graça divina da vocação à sua intercessão e ao seu exemplo."
Vale a pena ler aqui a Homilia de JP II por ocasião da atribuição do título de Doutora à Santa Teresinha.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

João Paulo II, um Papa Carmelitano


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Fr. Patrício Sciadini, ocd

Parece-me que nunca houve na história da Igreja um Papa Carmelita. Que não houve nenhum Carmelita Descalço tenho certeza. Mas muitos foram os Papas que pelo Carmelo tiveram um amor especial. Vale a pena recordar especialmente o Papa Pio XI, que abertamente e em muitas circunstâncias manifestou o seu apreço pelo Carmelo Descalço. Pio XI foi um enamorado de Santa Teresinha do Menino Jesus, ao ponto de chamá-la "a estrela do seu pontificado". Foi ele também que canonizou Santa Teresa Margarida Redi, a primeira santa carmelita italiana e quem conferiu a dois carmelitas o chapéu cardinalício.
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O Papa João Paulo II manifestou ao longo de seu pontificado que a sua vida espiritual e contemplativa se alimentava da fonte do Carmelo. Ele mesmo nos conta como aprendeu a amar o Carmelo através de um costureiro que, durante os tempos difíceis da perseguição nazista, formou um grupo de oração onde se lia Santa Teresa e São João da Cruz. A descoberta dos dois místicos foi de grande importância para o jovem Karol Woytila Mais tarde ele fará sua tese doutoral sobre a fé em São João da Cruz, um tema não muito fácil. A tese lhe ofereceu a oportunidade de aprofundar-se no místico espanhol que será para ele uma forte luz durante seu pontificado, como nos recorda na carta que enviou à Ordem e à Igreja por ocasião do IV Centenário da morte do pai do Carmelo Descalço. Na carta o Papa se pergunta quais seria as novas "noites escuras" que a humanidade de hoje é chamada a viver. João Paulo II nos recorda a noite da fome e da miséria, da exploração, da falta dos direitos humanos, a noite da guerra e do mal, noites que a humanidade é chamada a enfrentar com através da fé pura.
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O Papa polaco teve a alegria de celebrar os grandes centenários vividos pelos Carmelitas Descalços, como o da morte de Santa Teresinha, do nascimento da beata Elisabete da Trindade, do nascimento de Edith Stein, da morte de São João da Cruz. Foi o Papa que teve a alegria de inserir muitos santos e beatos no calendário carmelitano, como a beata francesa Elisabete, o beato polonês Rafael, a santa judia Edith e a santa chilena Teresa dos Andes.
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Entre tanta demonstração de reconhecimento do Carmelo na Igreja, uma se destaca: a proclamação do doutorado de Santa Teresinha. Nela o Papa descobriu uma mensagem nova para a juventude, às vezes desnorteada e desorientada, com medo de dar-se a Cristo. Ao proclamar Teresa do Menino Jesus doutora da Igreja, o Papa apresenta uma jovem cheia de entusiasmo missionário, iluminando sua própria missão de pastor universal que ganha o mundo com suas viagens. Recordamos como no início do seu pontificado, João Paulo II fazia questão de visitar, onde fosse, as monjas carmelitas nos carmelos que encontrasse pelo caminho.
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Mas houve momentos também de dificuldade que ele viveu junto com o Carmelo. No processo de renovação das Constituições da Ordem, o Papa certamente sofreu com o Carmelo dividido. Sua atuação nesta parte da história, que provocou uma divisão na ordem, ainda deve ser aprofundada. As intenções do Santo Padre, certamente, foram as melhores, e isto se comprova pelas inúmeras palavras dirigidas ao Carmelo e as inúmeras citações da espiritualidade carmelitana em seus escritos. Um dia o Carmelo reunirá em um livro todos os discrusos do Papa João Paulo II dirigidos ao Carmelo e todas as referências a ele em seus discursos, ao longo dos 26 anos de seu Pontificado. Palavras que teremos a alegria de ler e meditar, ajudando-nos a um constante exame de consciência, a fim de seguirmos caminhando com a Igreja e em sintonia com Ela.
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A beatificação do papa João Paulo II é fonte de regozijo de toda a família carmelitana e nos permite dizer que este Papa é prata da casa, um Papa carmelitano.
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Escrevo este artigo daqui do Egito, contando unicamente com os recursos da minha memória, em que a figura de João Paulo II encontra-se bem fixada, ele que sempre usou o escapulário e que, em diversas circunstâncias revelou o desejo de ser carmelita descalço. Deus, porém, tinha para ele um outro plano.
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Que do céu ele olhe para o Carmelo Teresiano e abençoe-nos, para que no IIº milênio o Carmelo siga dando santos e santas para a Igreja e seja, no mundo, uma voz clara e audível da oração e da contemplação.