terça-feira, 25 de dezembro de 2007

O Natal e Santa Teresinha

SANTA TERESINHA E O MENINO JESUS


"Eu sou a bolinha do Menino Jesus; se ele quiser quebrar seu brinquedo ele é livre; sim, quero tudo que ele quiser". (CT 36)

A noite de Natal tornou-se noite de tristeza e vazio para muitos. Reduziu-se a mero festival gastronômico, antecedido de compras absurdamente caras, enquanto os pobres prosseguem vasculhando as lixeiras em busca de um pedaço de pão. Para os que pautam a sua vida pelo evangelho, o Natal é simplesmente a festa do nascimento do Menino Jesus e isso basta para encher essa data de um sentido tão profundo que nenhum comercial de TV irá arrebatar.

No Natal, contemplemos o presépio na companhia de Santa Teresinha do Menino Jesus. Meditemos sobre a importância do Divino Infante na vida da Santa das Rosa.

Teresa nem entrara no Carmelo e já se questionava a respeito de seu futuro nome como religiosa carmelita. "Sonhou acordada" que seria chamada "Teresa do Menino Jesus". Em outubro de 1882, no parlatório do Carmelo, diante de Madre Maria de Gonzaga, manteve silêncio sobre seu sonho. Para júbilo da futura carmelita, a priora sugeriu-lhe o nome sonhado. A menina viu nessa coincidência a mão de Deus: "Minha alegria foi grande e esse feliz encontro de pensamento pareceu-me uma delicadeza do meu Bem-Amado Menino Jesus". (MA 31v). Ela será a primeira religiosa do Carmelo de Lisieux a receber o sobrenome do Menino Jesus. Em sua pureza, Teresa comporá uma carta de convite para sua tomada de véu, suas núpcias com Jesus, na qual descreverá como dote de casamento da parte de seu noivo a "Infância de Jesus". Recebia dessa forma o título de nobreza "do Menino Jesus" (MA 77v).

Em sua inesquecível viagem à Itália, no dia 20 de novembro de 1887, no momento da audiência com o papa Leão XIII, Teresa corajosamente faz o pedido para ingressar no Carmelo aos 15 anos. O Santo Padre, atônito, na impossibilidade de garantir-lhe a entrada, diz-lhe apenas: "Fazei o que os superiores vos disserem". A amargura invadiu o coração de nossa Santa: "Ainda naquele dia, o sol não brilhou e o belo céu azul da Itália, carregado de nuvens escuras, não parou de chorar comigo..." (MA 64f). Angustiada, recupera a paz ao lembrar que há algum tempo se oferecera para ser o "brinquedinho" do Menino Jesus: "Tinha-lhe dito para não me usar como brinquedo caro que as crianças só podem olhar sem ousar tocar, mas como uma bola sem valor que podia jogar no chão, dar pontapés, furar, largar num cantinho ou apertar contra seu coração conforme achasse melhor; numa palavra, queria divertir o Menino Jesus, agradar-lhe, queria entregar-me a suas manhas de criança... Ele aceitou minha oferta... Em Roma, Jesus furou seu brinquedinho. Queria ver o que havia dentro e, depois de ver, contente com sua descoberta, deixou cair sua pequena bola e adormeceu... " (MA 64v). Teresinha, a bola insignificante do Menino Jesus, se entristece ao ver-se rejeitada. Mas não se desespera: "... eu não deixava de esperar contra toda esperança".

Aflita, escreverá uma carta ao Pe. Révérony, no dia 16 de dezembro de 1887. A aflição deve-se ao receio de encontrar mais empecilhos ao seu ingresso no Carmelo: "Acabo de escrever ao Senhor Bispo, Papai e meu Tio me autorizaram. Aguardo sempre confiante o "sim" do Menino Jesus. Senhor Padre, só faltam oito dias para o Natal! Porém, mais o tempo se aproxima, mais espero, talvez seja temeridade, no entanto parece-me que é Jesus que fala em mim". (CT 39).
O primeiro texto que escreve sobre o Natal é um recreio piedoso intitulado "Os anjos no presépio de Jesus", escrito na primeira quinzena de outubro de 1894. Trata-se de um diálogo em prosa e verso sobre nove melodias. Trata-se de uma contemplação maravilhada do mistério da encarnação. Aos anjos Teresa confere a missão de exaltar o "mistério inefável". Nessa peça encontramos elementos que irão solidificar a "Pequena Via": misericórdia, pobreza, infância. Na primeira cena, o Anjo do Menino Jesus (Teresinha), carregando flores e um turíbulo entra cantando:

Ó Verbo de Deus, glória do Pai,Contemplava-te no Céu
Agora vejo-te na terraFeito mortal o Altíssimo.
Criança cuja luz inundaOs anjos da brilhante morada
Jesus, tu vens salvar o mundoQuem teu amor compreenderá?(RP 2)

No Recreio Piedoso intitulado "O Divino Pequeno Mendigo de Natal pedindo esmola às Carmelitas", composto para festejar o Natal de 1895, ela retomará o tema do "brinquedo":

"Quereis, na terra serDa divina Criança o Brinquedo?...
Irmãs, desejais agradar a Ele?Fiqueis na sua mãozinha.
Se a amável Criança vos acariciaSe vos aproxima do seu Coração,
E se, às vezesm se afasta de vós,
De tudo fazei a vossa felicidade.
Procurai sempre seus caprichosEncantareis os divinos olhares.
Doravante, todas as vossas delícias
Serão os infantis desejos Dele..."(RP 5)

No Carmelo de Lisieux havia uma imagem do Menino Jesus que foi "adotada" por Teresinha. Era uma imagem de gesso policromada com 60 cm de altura, que ficava dentro de um nicho também de gesso. Era o seu querido "Menino Jesus cor de rosa", de quem ela cuidava como se fosse uma verdadeira criança. Enquanto escrevia uma carta para sua tia, a Sra. Guérin, no dia 15 de outubro de 1889, foi interrompida com a chegada de um presente. Alguém mandara entregar "duas plantas magníficas para o Menino Jesus". Teresinha confessa à tia que "ficaria confundida se não fosse para enfeitar o altar do menino Jesus, é ele, sem dúvida, que se encarregará de pagar a minha dívida junto aos meus caros tios" (CT 97). Seu prazer era enfeitar de flores o altar do Menino Jesus. Entretanto, quando Celina ingressa no Carmelo Teresinha vai chamá-la de "Flor desejada". Considera-a seu mais "encantador ramalhete" e a oferece ao Menino Jesus.

Para sua irmã Madre Inês de Jesus Teresinha compôs no dia 21 de janeiro de 1894 um texto chamado "O Sonho do Menino Jesus". Ela estava começando a pintar o famoso quadro do Menino Jesus que irá oferecer na primeira festa de Madre Inês como priora do Carmelo: "Enquanto brinca com as flores trazidas ao seu presépio pela sua esposa querida, Jesus pensa no que fará para lhe agradecer... Lá em cima, nos jardins celestes, os anjos, auxiliares do Divino Menino, já tecem as coroas que o seu coração tem reservadas para sua bem-amada" (CT 156). Nesse texto e no quadro aparece o binômio "Menino Jesus" e "Paixão". "De repente, vê ao longem objetos estranhos que nada têm a ver com as flores primaveris. Uma Cruz!... Uma lança!... Uma coroa de espinhos! e apesar disso o divino Menino não treme". O quadro apresenta muito claramente o Menino Jesus sentado com um ramalhete na mão direita e a outra mão recostada à cabeça, como quem sonha. Ao fundo distingue-se a cruz, a coroa de espinhos e a lança. Para Teresinha, Belém e Calvário são indissociáveis.

Na poesia intitulada "O viveiro do Menino Jesus", Teresinha refere-se ao Carmelo como o lugar na terra onde o Menino Jesus cria suas "avezinhas" que "cantam sem parar", entoando louvores àquele de cuja boa mão tudo as carmelitas ganham:

Tua linda mãozinha nos atrai,Menino de carícias encantadas.
Ó divino Jesus, o Teu sorrisoÉ que sempre cativa as avezinhas. (P 43, 6)

Enferma, poucos meses antes de morrer, no dia 25 de julho de 1897 contemplou a imagem do Menino Jesus que Irmã Maria da Trindade trouxera do Carmelo de Messina e exclamou: "Esse pequeno Jesus parece me dizer: ‘Tu virás para o Céu, sou eu que te digo!" (CA 25.7.4).

Teresinha será sempre do Menino Jesus. Com ele aprenderá a trilhar a Pequena Via da humildade para ensiná-la aos outros. Como o Menino de Belém buscará ser eterna criança nos braços de Deus Pai. Por isso será capaz de rezar:

"Pai Eterno, vosso Filho Único, o doce Menino Jesus é meu, pois mo destes.
Eu vos ofereço os méritos infinitos de sua divina Infância
e eu vos peço,em Seu Nome, levar às alegrias do céu inumeráveis falange de criancinhas,
que seguirão eternamente o Divino Cordeiro".(Oração 13)

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