quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Carta ao Pe.Roulland

Carmelo de Lisieux, 30 de junho de 1896

+Jesus

Meu Irmão,

O senhor me permite, não lhe dar outro nome, já que Jesus se dignou nos unir pelos laços do apostolado?É me bastante doce pensar que por toda a eternidade Nosso Senhor formou esta união que deve lhe fazer salvar almas e que Ele me criou para ser sua irmã...Ontem recebemos suas cartas; é com alegria que Nossa Boa Madre o introduziu na clausura. Ela me permite guardar a fotografia de meu irmão, é um privilégio bem especial, uma carmelita não ter retratos nem de seus parentes mais próximas, mas Nossa Mãe bem sabe que o seu, longe de me lembrar o mundo e as aflições da terra, elevará minha alma a regiões mais altas, para com que ela se esqueça pela glória de Deus e pela salvação das almas.


Assim, meu Irmão, enquanto eu atravessar o mar em sua companhia, o senhor estará perto de mim, bem escondido em nossa pobre cela...Tudo o que me cerca traz até mim sua lembrança, afixei o mapa de Su-tchuem na parede do ofício em que trabalho e o retrato que o senhor me deu repousa sempre em meu coração, no livro dos Evangelhos que não me deixa jamais. Colocando-o ao acaso, eis, sobre que passagem caiu: "Aquele que tiver deixado tudo para me seguir, receberá o cêntuplo neste mundo e vida eterna no século vindouro". Estas palavras de Jesus já se realizaram para o Senhor, pois o senhor me diz: "Parto feliz". Compreendo que esta alegria deve ser bem espiritual; é impossível deixar seu pai, sua mãe e sua pátria, sem experimentar todas as dilacerações da separação...


Oh, meu Irmão! Sofro como o Senhor, como o senhor ofereço seu grande sacrifício e suplico a Jesus espalhar suas abundantes consolações sobre seus Pais, esperando a união celeste onde os veremos rejubilar com sua glória que, rezando para sempre suas lágrimas, as cobrirá de alegria durante a bem aventurada eternidade...Esta noite durante minha oração meditei passagens de Isaías que me pareceram tão bem apropriadas ao Senhor, que não posso me impedir de copiá-las:"Arranjem um lugar durante mais espaçoso para levantar as suas tendas. Vocês se espalharão à direita e à esquerda, sua posteridade terá as nações como herança(Is 54, 2-3) ela habitará as cidades desertas... Elevem seus olhos, e olhem à sua volta; todos aqueles que os virem reunidas virão em sua direção, seus filhos virão de longe (Is 60, 4-5) e suas filhas virão se encontrar de todos os lados. Então vocês verão esta multiplicação extraordinária, seu coração admirados se dilatarão assim que a multidão da beira-mar e tudo o que há de grande por entre as nações vier até vocês.Não está aí o cêntuplo prometido?


E você não pode por sua vez gritar: "O espírito do Senhor repousou em mim, ele me encheu de sua unção. Enviou-me para anunciar sua palavra, para curar o que estão decoração partido, para devolver a liberdade aos que estão acorrentados e consolar os que choram... Eu me rejubilarei (Is 61, 10-11) no Senhor, porque me revestiu com roupas da salvação e enfeitado com ornamentos da justiça. Como a terra faz germinar a semente assim o Senhor Deus fará germinar para mim sua justiça e sua glória no meio das nações... Meu povo será um povo de justos, (Is 60,21), eles serão os rebentos que plantei... Irei às mais longínquas ilhas, (Is 66, 19-20) em direção àqueles que jamais ouviram falar do senhor. Anunciarei se a glória às nações e as oferecerei como um presente a meu Deus."Se eu quisesse copiar todas as passagens que me tocaram mais, me faltaria muito tempo.


Termino, mas antes ainda tenho um pedido a fazer-lhe. Assim que tiver um instante livre, gostaria muito que me escrevesse quais as principais datas de sua vida, eu poderia assim me unir graças que ele lhe fez.Adeus, meu Irmão... a distância não poderá jamais separar nossas almas, a própria morte tornará nossa união mais intima. Se eu for logo para o Céu, pedirei a Jesus a permissão para visitá-lo em Su-tchuen e continuaremos juntos nosso apostolado. Esperando estarei sempre unidas pela oração e peço a Nosso Senhor me deixar alegrar-me quando o senhor estiver sofrendo. Gostaria mesmo que meu Irmão tivesse as consolações e eu as provações, será isto talvez egoísmo?... Claro que não, pois minha única arma é o amor e o sofrimento e que seu gládio seja a palavra e os trabalhos apostólicos.Ainda uma vez, adeus, meu Irmão, digne-se abençoar aquela a quem Jesus deu como irmã.


Thérèse do Menino Jesus e da Santa Face.
relig. Carm. Ind.

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