terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Nunca do mesmo modo depois de Thérèse


Todos os filmes vão mudando de alguma maneira seus diretores ou vão perfilando sua maneira de enfrentar a vida e o trabalho. Porém há casos mais radicais que outros. É o caso de "Thérèse" e Alain Cavalier, o cineasta francês de 79 anos. Assim confessava há poucos dias em Paris, durante os encontros de Unifrance. "Depois deste filme nunca voltei a trabalhar no cinema do mesmo modo. Depois de "Thérèse", abandonei o cinema de ficção com atores e me dediquei a realizar projetos com pessoas reais..."

O encontro de Cavalier com a santa francesa foi um encontro por etapas. Quando menino, estudante em um colégio religioso, Cavalier conheceu como todos os meninos franceses, a história real desta jovem alegre e idealista, que no final do século XIX entra em um convento de clausura junto com suas três irmãs. A dureza do convento e a falta de cuidados em sua saúde levaram Teresa à morte de tuberculose aos 24 anos de idade. Aos 45 anos, Cavalier encontra por casualidade em uma casa da família o diário íntimo que a jovem deixou escrito no convento. "Fiquei comovido", recorda. Passaram-se outros anos e o convento das camelitas, onde viveu a santa, trouxe à luz uma série de documentos sobre a vida real das monjas em seu interior e mais concretamente sobre Teresa. "Contava-se tudo, o que comia, como foi tratada medicamente, as penitências às quais se submeteu... algo que na época se considerava absoluto segredo".

Com todos estes elementos, Cavalier se lançou à realização do filme com uns elementos bem especiais. "Thérèse" foi rodada integralmente em decorados interiores, sem paredes, com claro-escuros, com imagens distantes do realismo. "Interessava-me retratar bem os rostos das monjas, as mãos, os tecidos dos hábitos e os objetos da vida quotidiana, sem distração alguma para o espectador. "Thérèse", interpretada por Catherine Mouchet, apresentou-se no Festival de Cannes em 1986, quando obteve o prêmio especial dos jurados.

Cavalier conta que nunca mais viu o filme novamente. "Não vejo nenhum (dos meus filmes) - explica, e esta decisão está na tradição mística de personagens como São João da Cruz e Santa Teresa de Ávila.

Alain Cavalier não tem nenhuma atitude militante nem a favor nem contra a religião, mas diz que ficou impressionado com a história da santa francesa. Sobretudo "apaixonei-me pela jovem que viveu no século XIX e que estava enamorada de Cristo, um homem morto 2000 anos antes".

ROCÍO GARCÍA - Madrid - 27/01/2011

Extraído do Boletim de Notícias da Província São José, OCD.

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