sexta-feira, 10 de junho de 2011

João Paulo II, um Papa Carmelitano


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Fr. Patrício Sciadini, ocd

Parece-me que nunca houve na história da Igreja um Papa Carmelita. Que não houve nenhum Carmelita Descalço tenho certeza. Mas muitos foram os Papas que pelo Carmelo tiveram um amor especial. Vale a pena recordar especialmente o Papa Pio XI, que abertamente e em muitas circunstâncias manifestou o seu apreço pelo Carmelo Descalço. Pio XI foi um enamorado de Santa Teresinha do Menino Jesus, ao ponto de chamá-la "a estrela do seu pontificado". Foi ele também que canonizou Santa Teresa Margarida Redi, a primeira santa carmelita italiana e quem conferiu a dois carmelitas o chapéu cardinalício.
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O Papa João Paulo II manifestou ao longo de seu pontificado que a sua vida espiritual e contemplativa se alimentava da fonte do Carmelo. Ele mesmo nos conta como aprendeu a amar o Carmelo através de um costureiro que, durante os tempos difíceis da perseguição nazista, formou um grupo de oração onde se lia Santa Teresa e São João da Cruz. A descoberta dos dois místicos foi de grande importância para o jovem Karol Woytila Mais tarde ele fará sua tese doutoral sobre a fé em São João da Cruz, um tema não muito fácil. A tese lhe ofereceu a oportunidade de aprofundar-se no místico espanhol que será para ele uma forte luz durante seu pontificado, como nos recorda na carta que enviou à Ordem e à Igreja por ocasião do IV Centenário da morte do pai do Carmelo Descalço. Na carta o Papa se pergunta quais seria as novas "noites escuras" que a humanidade de hoje é chamada a viver. João Paulo II nos recorda a noite da fome e da miséria, da exploração, da falta dos direitos humanos, a noite da guerra e do mal, noites que a humanidade é chamada a enfrentar com através da fé pura.
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O Papa polaco teve a alegria de celebrar os grandes centenários vividos pelos Carmelitas Descalços, como o da morte de Santa Teresinha, do nascimento da beata Elisabete da Trindade, do nascimento de Edith Stein, da morte de São João da Cruz. Foi o Papa que teve a alegria de inserir muitos santos e beatos no calendário carmelitano, como a beata francesa Elisabete, o beato polonês Rafael, a santa judia Edith e a santa chilena Teresa dos Andes.
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Entre tanta demonstração de reconhecimento do Carmelo na Igreja, uma se destaca: a proclamação do doutorado de Santa Teresinha. Nela o Papa descobriu uma mensagem nova para a juventude, às vezes desnorteada e desorientada, com medo de dar-se a Cristo. Ao proclamar Teresa do Menino Jesus doutora da Igreja, o Papa apresenta uma jovem cheia de entusiasmo missionário, iluminando sua própria missão de pastor universal que ganha o mundo com suas viagens. Recordamos como no início do seu pontificado, João Paulo II fazia questão de visitar, onde fosse, as monjas carmelitas nos carmelos que encontrasse pelo caminho.
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Mas houve momentos também de dificuldade que ele viveu junto com o Carmelo. No processo de renovação das Constituições da Ordem, o Papa certamente sofreu com o Carmelo dividido. Sua atuação nesta parte da história, que provocou uma divisão na ordem, ainda deve ser aprofundada. As intenções do Santo Padre, certamente, foram as melhores, e isto se comprova pelas inúmeras palavras dirigidas ao Carmelo e as inúmeras citações da espiritualidade carmelitana em seus escritos. Um dia o Carmelo reunirá em um livro todos os discrusos do Papa João Paulo II dirigidos ao Carmelo e todas as referências a ele em seus discursos, ao longo dos 26 anos de seu Pontificado. Palavras que teremos a alegria de ler e meditar, ajudando-nos a um constante exame de consciência, a fim de seguirmos caminhando com a Igreja e em sintonia com Ela.
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A beatificação do papa João Paulo II é fonte de regozijo de toda a família carmelitana e nos permite dizer que este Papa é prata da casa, um Papa carmelitano.
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Escrevo este artigo daqui do Egito, contando unicamente com os recursos da minha memória, em que a figura de João Paulo II encontra-se bem fixada, ele que sempre usou o escapulário e que, em diversas circunstâncias revelou o desejo de ser carmelita descalço. Deus, porém, tinha para ele um outro plano.
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Que do céu ele olhe para o Carmelo Teresiano e abençoe-nos, para que no IIº milênio o Carmelo siga dando santos e santas para a Igreja e seja, no mundo, uma voz clara e audível da oração e da contemplação.

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